miércoles, 15 de abril de 2009

Arullo del Seringueiro


Publico la traducción de Acalanto do seringueiro (Arrullo del seringueiro) de Mario de Andrade, el poeta modernista brasileño.



Acalanto do seringueiro
Mário de Andrade

Seringueiro brasileiro,
Na escureza da floresta
Seringueiro, dorme.
Ponteando o amor eu forcejo
Pra cantar uma cantiga
Que faça você dormir.
Que dificuldade enorme!
Quero cantar e não posso,
Quero sentir e não sinto
A palavra brasileira
Que faça você dormir...
Seringueiro, dorme...
Como será a escureza
Desse mato-virgem do Acre?
Como serão os aromas
A macieza ou a aspereza
Desse chão que é também meu?
Que miséria! Eu não escuto
A nota do uirapuru!...
Tenho de ver por tabela,
Sentir pelo que me contam,
Você, seringueiro do Acre,
Brasileiro que nem eu.
Na escureza da floresta
Seringueiro, dorme.

Seringueiro, seringueiro,
Queira enxergar você...
Apalpar você dormindo,
Mansamente, não se assuste,
Afastando esse cabelo
Que escorreu na sua testa.
Alguma coisas eu sei...
Troncudo você não é.
Baixinho, desmerecido,
Pálido, Nossa Senhora!

Parece que nem tem sangue.
Porém cabra resistente
Está ali. Sei que não é
Bonito nem elegante...
Macambúzio, pouca fala,
Não boxa, não veste roupa
De palm-beach... Enfim não faz
Um desperdício de coisas
Que dão conforto e alegria.

Mas porém é brasileiro,
Brasileiro que nem eu...
Fomos nós dois que botamos
Pra fora Pedro II...
Somos nós dois que devemos
Até os olhos da cara
Pra esses banqueiros de Londres...
Trabalhar nós trabalhamos
Porém pra comprar as pérolas
Do pescocinho da moça
Do deputado Fulano.
Companheiro, dorme!
Porém nunca nos olhamos
Nem ouvimos e nem nunca
Nos ouviremos jamais...
Não sabemos nada um do outro,
Não nos veremos jamais!
Seringueiro, eu não sei nada!
E no entanto estou rodeado
Dum despotismo de livros,
Estes mumbavas que vivem
Chupitando vagarentos
O meu dinheiro o meu sangue
E não dão gosto de amor...
Me sinto bem solitário
No mutirão de sabença
Da minha casa, amolado
Por tantos livros geniais,
"Sagrados" como se diz...
E não sinto os meus patrícios!
E não sinto os meus gaúchos!
Seringueiro dorme ...
E não sinto os seringueiros
Que amo de amor infeliz...

Nem você pode pensar
Que algum outro brasileiro
Que seja poeta no sul
Ande se preocupando
Com o seringueiro dormindo,
Desejando pro que dorme
O bem da felicidade...
Essas coisas pra você
Devem ser indiferentes,
Duma indiferença enorme...
Porém eu sou seu amigo
E quero ver si consigo
Não passar na sua vida
Numa indiferença enorme.
Meu desejo e pensamento
(...numa indiferença enorme...)
Ronda sob as seringueiras
(...numa indiferença enorme...)
Num amor-de-amigo enorme...

Seringueiro, dorme!
Num amor-de-amigo enorme
Brasileiro, dorme!
Brasileiro, dorme.
Num amor-de-amigo enorme
Brasileiro, dorme.

Brasileiro, dorme,
Brasileiro... dorme...

Brasileiro... dorme...

Arrullo del seringueiro [1]
(traducción al español de Leonardo Iván Martínez)


Seringueiro brasileño
en lo oscuro de la selva
seringueiro, duerme.
Rasgando el amor pretendo
entonarte una canción
que te arrulle hasta dormir.
¡Qué dificultad enrome!
Quiero cantar y no puedo,
quiero sentir y no siento
la palabra brasileña
que te haga por fin dormir…
Seringueiro, duerme.

¿Cómo será lo profundo
De esa tierra de Acre[2]?
¿Cómo serán los aromas,
La blandura y la aspereza
de este suelo también mío?
¡Qué miseria! ¡Yo no escucho
La nota del uirapuru!
Tengo que poner mi parte,
Sentir por lo que me cuentan,
Tú, el seringueiro de Acre,
Brasileño como yo.
En la oscuridad de la selva
Seringueiro, duerme.

Seringueiro, seringueiro
Te quería descubrir…
acariciarte dormido
despacito, no te asustes,
retirándote el cabello
que se escurre en tu cabeza.
Una cosa más que sé…
Que de tonto nada tienes
Chaparrito, despreciado,
Pálido, ¡Nuestra Señora!

Parece vacío de sangre
Pero resiste cual cabra
Míralo. Sé que él no es
Bonito ni tiene porte…
Taciturno, casi no habla
No calza, ni viste ropa
De Palm Beach… en fin nunca hace
Un desperdicio de cosas
Que dan confort y alegría

Sin embargo es brasileño,
brasileño como yo…
Fuimos los que regresaron
A Europa a Pedro II…
Nosotros dos le debemos
Hasta los ojos del rostro
A los banqueros de Londres…
Trabajar, y trabajar
Todo por comprar las perlas
Del pescuezo de la niña
Del diputado Fulano.
¡Compañero, duerme!
Mas nunca nos hemos visto
Ni nos oímos siquiera
Ni nos oiremos jamás…
Nada sabemos del otro,
No nos veremos jamás.

¡Seringueiro, no sé nada!
Y aún así estoy rodeado
De un despotismo de libros,
Esos engendros que viven
Chupando sin escrúpulos
Mis monedas y mi sangre
Y no dan satisfacción…
Me siento tan solitario
a causa de la sapiencia
que hay en mi casa, aburrido
por tantos libros geniales,
“Sagrados” como se dice…
¡ Y no siento a mis Patricios!
¡Tampoco siento a mis gauchos!
Seringueiro duerme…
Y no siento al seringueiro
Que amo de amor infeliz…

Ni siquiera te imaginas
Que algún otro brasileño
Que sea poeta en el Sur
Se ande por ahí preocupando
Y el seringueiro durmiendo
Deseando para el que duerme
su bien y felicidad…
Esas cosas para ti
Deben ser indiferentes,
De una indiferencia enorme…
Sin embargo soy tu amigo
Y quiero ver si consigo
No pasar en tu vida
Con indiferencia enorme.
Mi deseo y pensamiento
(con indiferencia enorme…)
Vaga por las seringueiras
(con indiferencia enorme…)
Con amor de amigo enorme…

¡Seringueiro, duerme!
Con amor de amigo enorme…
¡Brasileño, duerme!
Brasileño, duerme.
Con amor de amigo enorme
Brasileño, duerme.

Brasileño, duerme,
Brasileño… duerme…

Brasileño… duerme…
______________________
[1] Seringueiro: Recolector de caucho en la selva brasileña. Estos trabajadores eran explotados por las grandes industrias productoras de neumáticos que a su vez abastecían a la creciente industria automotriz.
[2] Estado brasileño ubicado en lo más escondido del río amazonas. Este estado generaba la gran mayoría de la producción de caucho.